Antes da tempestade...

Antes da tempestade...

domingo, 20 de novembro de 2011

CUBATÃO E O PATINHO FEIO

"Há muito, muito tempo atrás, uma pata gorda - de nome "São Paulo" - teria colocado seus ovos, numa noite de terrível tempestade. Não seria sua primeira ninhada e ela, exausta do esforço, adormeceu sobre eles, profundamente.
Ao acordar, não percebeu que seu dono acrescentara um ovo - maior - de uma ave que morrera na fatídica noite, deixando seu filhote sem ter quem lhe chocasse.
Tempos depois, rompidas as cascas dos ovos, ela olhou sua cria e foi lhes dando nomes: Itanhaém, Guarujá, São Vicente, Praia Grande, Bertioga, Santos, Cubatão - esse tão feioso e desengonçado, ela pensava de si para si. 
E lá ia a gorda pata levá-los a nadar todos os dias, deixando sempre Cubatão para trás. Já não podia disfarçar sua preferência por Santos - a despeito de o desengonçado Cubatão ser melhor nadador e ter ensinado seu brilhante irmão a nadar. 
As outras patas e suas crias olhavam de esguelha, constrangendo cada vez mais São Paulo, que foi colocando Cubatão de lado, de lado... Até que um dia ele - a quem ela deixava apenas os restos da ração diária - fraco, viu a ninhada se afastar durante o passeio, acabando por se perder.
Abandonado, gritava por sua mãe e seus irmãos - mas estavam, já, longe demais para ouvi-lo. Perdido e desesperado, não notava o olhar de admiração que outros animais, em seu caminho, lhe dirigiam..."

Seria romântico imaginar Cubatão como o cisne chocado pela pata e rejeitado por ela, vagando pelo mundo até se dar conta de seu porte e beleza - eu até gosto de imaginar as coisas assim.
Mas Cubatão não nasceu de São Paulo e, no máximo, podemos dizer que teve uma irmã mais velha - São Vicente.
E a verdade poucas vezes confessa é que, sem Cubatão, sequer existiria a grande pata gorda.
Não vou aqui contar a história do Porto Geral, dos jesuítas na região, dos cinco Manuéis e da instalação do Parque Industrial - tudo isso deveria constar da grade escolar em todo o Estado, com riqueza de detalhes.
Sabemos que fomos tratados como estalagem em vários momentos diferentes da história, muitas vezes abandonados à nossa sorte. Somos o irmão que mais trabalha, o motor que carrega os outros todos - inclusive a pata-mãe - nas costas.
Mas não somos um pato - somos o cisne. 
E só agora, depois de tantos anos, estamos tirando os óculos de lentes verdes e enxergando a realidade.
A realidade é que, depois de carregar o peso das sacas de batatas para que os outros comam o pirê - e abrigando, aqui, os restos das cargas dos viajantes que vieram e se foram e, também, dos que ficaram, um dia acordamos e nos vimos no espelho: somos o irmão mais belo, colorido, criativo, valente e "sarado" (benditas sacas de batatas). 
Ouvi de um empresário santista, faz pouco tempo: "Como vão nossos irmãos pobrezinhos de Cubatão?"...
Pobrezinhos?? 
É verdade que estamos acostumados a não reclamar cada vez que enfiaram nossa riqueza no bolso, nos deixando à míngua. 
É verdade que cada governo que passou nos "interditou" e gastou nossos gordos rendimentos anuais, nos confinando ao aposento mais modesto da ala dos empregados.
Mas também é verdade que somos os mais ricos e, além disso, herdeiros da cultura de cada onda de viajantes que passou por aqui - isso inclui o povo que veio lá do Nordeste, fina flor da arte, musicalidade, literatura e poesia nesse país enorme que é o Brasil.
Somos o cisne - só não nos tínhamos dado conta disso. Até agora.
Ainda não sabemos voar - mas valentes, já começamos a bater as asas.
Quem vai nos impedir, agora que descobrimos a verdade?

                                                                          (Jordana Lima Duarte)

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