Antes da tempestade...

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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

TEATRO DO KAOS PREPARA O FESTKAOS E CELEBRA OS RESULTADOS DO PROJETO SUPERAÇÃO

(por Jordana Lima Duarte)



Recebemos, em nossa redação, na última terça feira 21, o teatrólogo Lourimar Vieira e as alunas do Projeto Superação – Sandy Andrade e Tamirys Ohanna – que fizeram uma avaliação do último ano, em termos de realizações e da influência do teatro em suas vidas.

POVO: Como surgiu o Projeto Superação na vida de vocês?
SANDY: A gente já estava no Kaos e já trabalhávamos em “Caminhos da Independência”, já estávamos por lá. Então Lourimar falou desse projeto e que ele tinha sido aprovado pela Petrobrás. Fizemos os testes, passamos e entramos para o projeto – já estávamos no Kaos e continuamos. 
              
POVO: Vocês cursavam, então, o Ensino Médio?
SANDY: No meu caso, não – quando o projeto começou, eu já estava formada.
TAMIRYS: Eu me formei agora. Quando o projeto começou, eu estava no último ano da Etec, cursando Meio Ambiente. Era período integral e, de lá, eu ia direto para o projeto, onde tínhamos aulas todos os dias, era corridíssimo. Mas consegui concluir o curso.
SANDY: Agora estamos de férias, só voltamos em Janeiro, já com os ensaios prá duas peças que vamos encenar – “A Falecida” de Nelson Rodrigues e “O Auto da Camisinha”, um teatro de rua.

Tamirys Ohanna foi aprovada no Curso de Arte Dramática da USP – Sandy chegou até a terceira fase e tentará novamente em 2012. Há uma preocupação de Lourimar Vieira com o desempenho escolar dos alunos, em sua maioria adolescentes – o que obriga todos a uma disciplina diária severa. O resultado disso é que o teatro acaba influindo de maneira mais que benéfica, potencializando o sucesso individual em outras áreas, como o estudo.

POVO: O que foi determinante prá que vocês “dessem conta” de uma carga tão pesada?
SANDY: Sem dúvida a família, que esteve sempre junto, me apoiando e valorizando a cada passo.
TAMIRYS: Meu pai sempre me cobrou “foco” , por eu ser muito dispersa – então tudo que eu começava, tinha que terminar, mesmo que não quisesse mais. Quando o tempo passou e se definiu que o que eu quero é o teatro, meu pai e minha mãe me apoiaram totalmente.
SANDY: Duas coisas que se aprendem no teatro, além do óbvio – que é atuar – são responsabilidade e disciplina, que você carrega prá todas as áreas da sua vida.
LOURIMAR:Estamos desde janeiro sem conseguir parar, com atividades o ano inteiro. Tiramos férias agora, mas logo no princípio do ano estaremos de volta, ensaiando “A Falecida” com o Nelson Baskerville. Começa, então, a segunda fase do projeto – que é montar duas peças e viajar por 30 cidades em 5 estados brasileiros. Além disso, a partir de agora, os alunos começam a multiplicar, nas salas de aula, tudo o que aprenderam esse ano, ministrando oficinas de iniciação teatral. Nós vamos atender mais de 400 crianças e adolescentes da rede municipal de ensino – sem custo nenhum para o município, tudo pago com recursos da Petrobrás. E cada aluno ainda ganha uma bolsa-auxílio no valor de 300 reais. Vale lembrar que esse projeto foi viabilizado com recursos do Programa Petrobrás Desenvolvimento e Cidadania.
POVO: No quê, necessariamente, você estava pensando, quando idealizou o Projeto Superação?
LOURIMAR: Sou professor de artes cênicas e dou aulas desde 1986. Eu quis tanto fazer teatro e as pessoas não me ajudaram, foi muito difícil engressar nesse mundo. Então no que as pessoas não foram generosas comigo eu procuro recompensar a criança, o adolescente, o jovem, o adulto que queiram fazer teatro. A quem me procura dizendo que quer fazer teatro eu respondo que só existe um segredo, que é me encher o saco, ficar no meu pé, – que eu já coloco logo num curso, numa peça. Porque na minha vida inteira eu me dediquei à formação de atores. E agradeço muito a Deus por ter colocado o teatro na minha vida – ele me transformou, me deu dignidade; não é fama, é realização, tudo o que eu tenho, devo ao teatro.

POVO: Você veio lá do Piauí e viajou por grande parte do país – por quê realizar esses projetos em Cubatão?
LOURIMAR: O Schmidt deixou a missão, para algumas pessoas – a de transformar Cubatão em Zanzalá. Nós, que amamos essa cidade, temos a obrigação de transformar o sonho dele em realidade. E o que é o sonho dele¿ O de, em 2029, Cubatão ser o maior pólo cultural da região metropolitana. Onde está a melhor Banda Sinfônica¿ Em Cubatão. No teatro do Kaos, temos os melhores professores, alguns doutores da USP como a Orleidy Faya, doutora em dramaturgia, o Nelson Baskerville, que ganhou o prêmio APCA e 5 indicações ao Prêmio Shell, o Tanah Corrêa, Carlos Meceni. Meu objetivo é formar um grupo de atores bons prá trabalhar comigo e levantar o Kaos – Tamirys é uma atriz maravilhosa, a Sandy, o Sander, o Paulinho e vários outros do mesmo nível, temos já uma seleção de bons atores.

Lourimar quer produzir um filme sobre Cubatão, já orçado em R$432.000,00 e, para tanto, conclama a todos os que amam a cidade.
LOURIMAR: Se cada empresa do pólo industrial entrar com 30 ou 50 mil, será bom para o Teatro do Kaos, para Cubatão e para as empresas. Quero mostrar as cachoeiras, as histórias do Afonso Schmidt, os monumentos históricos – as pessoas no Brasil só conhecem, de Cubatão, que ela foi poluída nos anos 80, há muito preconceito e piadas. Então esse filme chega para mostrar uma imagem positiva da cidade – da cultura, das imagens, da obra do Schmidt. A poluição, por exemplo, foi controlada em 92% e existe em toda parte do país – São Paulo é muito mais poluída. Estou num longa-metragem do Frank Aguiar – faço uma participação. Gostei e quero fazer isso em Cubatão. Por isso esse apelo às pessoas que amam a cidade – não vou ganhar nem um centavo, se tiver que pagar prá fazer o filme, eu pago, mas quero fazer.

SOBRE O FESTKAOS:
LOURIMAR: Um dia eu estava no Kaos, me entra Telma de Souza, fiquei tão assustado e feliz ao mesmo tempo. Depois ela foi prestigiar “Caminhos da Independência”, nos visitou nos camarins. Mais tarde recebo um telefonema de um assessor dela: “Lourimar, temos uma emenda parlamentar da Telma de Souza para que você desenvolva um projeto cultural”. Eu não pedi, ela ofereceu. E já estava montando duas peças, então pensei num festival de teatro. Como há um vácuo temporal entre a realização do Festac e a liberação do dinheiro da emenda (a princípio queríamos um festival emendado ao Festac), então pensei no Festkaos. E já temos 53 inscritos de 7 estados brasileiros – 28 cidades. Serão 10 dias de festival – dos dias 20 a 29 de janeiro. Serão 8 selecionados para a mostra competitiva. Os grupos selecionados já ganham, de cara, 2000 reais – depois haverá as premiações para os três primeiros colocados. Os jurados são o Plínio Soares – que é um ator de Cubatão, formado pela Escola de Arte Dramática e está na Malhação, da Rede Globo. Teremos também a Renata Sofredini, filha do Carlos Alberto Sofredini – e o terceiro jurado é o Moisés Miaskóvski. Já a comissão de seleção pediu anonimato. Premiaremos, além de melhor espetáculo (primeiro, segundo e terceiro lugares), melhor ator, melhor ator coadjuvante, melhor atriz, atriz coadjuvante – a quem quiser saber mais, é só acessar o site WWW.teatrodokaos.org e clicar em festkaos. Fica aqui meu agradecimento à Secretaria de Estado da Cultura, pro governo do Estado de São Paulo e para a Deputada Telma de Souza – e à parceria da Secretaria de Cultura de Cubatão, uma coisa que tem dado muito certo. Teatro é celebração – e festival é comunhão e celebração.

                                                        
                                                                   Tamirys Ohanna


                                                    
                                                                    Sandy Andrade

CAMINHADA MARIA DA PENHA EM CUBATÃO


(por Jordana Lima Duarte)


Na última sexta feira 16 de dezembro aconteceu, em Cubatão, a Passeata pela não-violência contra as mulheres. Inspirado em Maria da Penha e tendo, como objetivo, a divulgação da lei inspirada em sua história e a conscientização das mulheres a respeito de seus direitos, o evento foi organizado pelo Conselho Municipal da Condição Feminina e liderado por Genilde Spina, que falou a esta reportagem.

GENILDE: Esse mês tivemos algumas datas importantes como a “Consciência Negra”, o “Dia internacional de combate à violência contra a mulher” e no dia 30 inauguramos, em Cubatão, da “Casa de Acolhimento e Referência às Mulheres”, situada dentro do Poliesportivo CSU, no Jardim Costa e Silva. Quando nós assumimos o Conselho, em 2003, a principal exigência era uma casa desse tipo – um lugar onde as mulheres pudessem ser acolhidas e abrigadas após o momento da agressão. Hoje nós estamos aqui, tentando que as mulheres se unam em torno de um bem comum, que é a auto-estima feminina e sua integridade física e moral.

POVO: Mas as mulheres ainda têm, em geral, muito medo de denunciar as agressões.
GENILDE: Muitas delas são dependentes, financeiramente, dos parceiros que as agridem. Outras são dependentes emocionais, elas pensam “se eu o denunciar, como vou viver?”

POVO: Mas a vítima de agressão, depois de denunciada, estará em segurança?
GENILDE: O governo é obrigado a garantir a segurança dela. Segundo a lei, após uma agressão, a vítima deve denunciar e, de posse do Boletim de Ocorrência, dar entrada num processo legal – durante o qual já ocorrem as medidas protetivas, que incluem o estabelecimento da distância entre o agressor e a vítima e um local onde ela deverá ser acolhida. A maioria das mulheres não sabe, por exemplo, que o governo deverá garantir o sustento da vítma que, até então, era sustentada pelo agressor, durante o período de 6 meses ou até que ela se estabeleça profissionalmente.

POVO: Mesmo após a Lei Maria da Penha, os números de casos de agressões contra a mulher continuam aumentando – a lei ainda precisa ser aprimorada ou não foi devidamente divulgada e esclarecida?
GENILDE: A falta de educação e ignorância agravam realmente a situação e é verdade que a lei precisa de aprimoramento. Mas a mídia em geral que, ainda hoje, estimula uma visão da mulher como objeto – as campanhas de cerveja e hits do ritmo funk são exemplos disso – só fazem piorar muito a situação. Nós estamos com um projeto de cartilha com todos os direitos da mulher em forma de gibi. O roteiro já está pronto, só estamos na espera de uma parceria com a Prefeitura e as indústrias para produzir e espalhar esse material – que será de grande ajuda, principalmente, em áreas mais carentes, onde as pessoas não tem o hábito de ler. O pedido junto à Prefeitura já foi feito – esperamos conseguir que entre no orçamento do próximo  ano.



COLUNA SOCIAL - 23.12.2011


“Algumas pessoas sonham com o sucesso, enquanto outras se levantam e trabalham duro para isso.”                                                                                                                        
                                                                                                                                   (Anônimo)



São quase 18 horas e vejo o sol aqui, das janelas da redação, apenas ameaçar se pôr atrás dessa cadeia de montanhas impressionante. Daqui a dois dias o perfume de tenders, perus assados e lombos recheados com bacon e passas invadirão nosso universo, disputado ainda pelos pacotes coloridos de presentes e gritinhos de crianças correndo por todo lado. Os sinos estão soando na Catedral da Avenida 9 de Abril e estou numa pequena e poderosa cidade onde acontecem coisas que decidem prá muito além de seus limites. Não há a agenda de eventos costumeiramente movimentada para esse final de semana - as pessoas estarão em suas casas, com suas famílias, abrindo seus presentes e se igualando em idade à mesa, durante a ceia. Cubatão parece estranhamente tranquila, como se tomasse fôlego antes de retomar sua inquietude histórica a partir do dia 1. Em Cubatão tudo parece imenso: polêmicas e escândalos adquirem proporções nacionais - alegrias e festas ocupam tudo e todos, o tempo todo em que durarem. Cubatão parece um time de futebol que não sai da segundona, variando prá terceira, ocasionalmente - ou você sente vergonha e esconde a informação decisiva (sou de Cubatão) ou veste a camisa, orgulhoso e feliz por saber quem é, de onde vem e conhecer o chão onde pisa, que é seu. Hora de baixar a bola e as armas - e preparar nosso Natal. Desejo um bom descanso a todos, com um final de semana cheio de abraços, olhos nos olhos, velhos à mesa, molecada bagunçando e muitas gargalhadas - que elas ajudam a desabafar, fazem um bem danado á saúde e, de quebra, nos permitem lembrar quem somos: crianças quando nascemos e crianças quando morremos.  
Um feliz Natal - e obrigada.





                                                   
                                                       SARAU NO CAFÉ IMPRENSA










                              FESTA DE CONFRATERNIZAÇÃO DO VEREADOR ALEMÃO











                                                    

RETRATO: Carlos Alberto Lopes, o Anacoluto de Cubatão


(por Jordana Lima Duarte)


    Quis muito fazer o Retrato dele – me disseram que é um homem difícil e deixei a idéia na geladeira até que veio a ordem prá que o entrevistasse. Logo de saída ele exigiu que se publicasse cada palavra do que dissesse – que eu não cortasse nada, era uma exigência. E esse homem genioso e exigente que assassina a língua portuguesa todos os dias e nutre uma paixão descontrolada pelas vírgulas me recebeu em sua casa e apresentou sua mãe – de quem cuida sozinho, apesar de viver em cadeira de rodas - e todas as suas relíquias.

DE ONDE VEM ESSE NOME: ANACOLUTO?
O Anacoluto de Cubatão nasceu quando ganhei a “Medalha Afonso Schmidt” de 2008, que esperei por 20 anos – porque todo mundo sabe que eu devia ter recebido essa medalha faz muito tempo. Quando saí da solenidade, depois da entrevista que dei para rádio e TV me perguntei o que eu daria para o município. Aí comecei a usar meu telefone, fechei contratos de informação com uma rede impenetrável – com isso consigo fazer o Anacoluto sem sair de Santos afinal,  não tenho condução própria. E não posso pagar jornalista, como o Raul (Christiano) pode. Meu gosto seria fazer o Anacoluto como ele é, em papel e diário.

E VOCÊ SABE BEM ARRANJAR ASSUNTO DIÁRIO...
O Anacoluto traz uma média de 5 matérias por dia. E todas são  publicadas no site e remetidas por email prá 560 mil pessoas. São 60 mil emails prá Baixada Santista e 500 mil na rede mundial. Em dois dias do Anacoluto eu bato a tiragem mensal da Tribuna de Santos prá Cubatão, fácil. Não é que eu me sinta glorificado com isso – não tenho glória nenhuma, não ganho um centavo, aliás, é um prejuízo desgraçado com telefone. E não tenho patrocinador nem anunciante.

VOCÊ NUNCA PENSA EM IR ATRÁS DISSO?
Não aceito patrocínio, nem auxílio financeiro de partido político, não me vendo. O Anacoluto é rotulado como um jornal de oposição. Só que eu não sou um jornal de oposição – eu sou Cubatão. Se você fizer a coisa certa prá Cubatão, tem espaço e elogio dentro do jornal. Como o governo não faz nada, até agora, que mereça ser elogiado, eu me tornei o jornal de oposição.

MAS VOCÊ NUNCA SE FILIOU A NENHUM PARTIDO?
Eu sou infiliável, minha filha – incomprável, intragável, imandável (ele bem que tenta esconder a vontade de rir com palavras implacáveis). Trabalho com jornal desde os 15 anos de idade e nunca trabalhei “em” jornal.

(Faz pausa dramática, esperando ser questionado – o jeito é obedecer)
HUMM... E COMO SE EXPLICA ISSO?
Sempre tive meu jornal, desde os 15 anos – o mesmo jornal.

VOCÊ JÁ FAZIA O ANACOLUTO AOS 15 ANOS?? (Deu certo, fiquei espantada)
É o mesmo Anacoluto, só que está na internet desde 2000. Antes ia por correio. No tempo da Ditadura, 1977 – 1978, ele ia pelo correio falando mal do Governo. E o Governo entregava na tua casa, o jornal. (Não sei se devia, mas estou rindo). Às vezes era um envelope da Prefeitura de Cubatão, às vezes da Prefeitura de Santos, outras vezes da Petrobrás, de outra era o envelope da farmácia, eu enfiava o Anacoluto em qualquer envelope que se arrumasse. Chegava um envelope das Casas Bahia na tua casa, você abria e tinha o Anacoluto lá dentro, metendo o pau no Governo. E foi nessa época que eu conheci o Raul, no tempo da briga feia – nós vendíamos livros de mesa em mesa. Estivemos juntos na Bienal de Santos - prá tua ter uma idéia, a livraria Martins Fontes vendeu, durante os 10 dias da Bienal, 26 obras. O meu livro “O Reverso do Inverso” vendeu 2.500 exemplares em 10 dias. 


E COMO É QUE VOCÊ VEIO PARAR EM SANTOS?
Eu nasci em 1951, quando Cubatão era uma estrada, um bambuzal, a 9 de Abril nem era asfaltada. Descobriram que eu tinha Paralisia Infantil e a quadra em que eu morava foi interditada pela Sanitária Pública do Estado, prá se descobrir qual era a minha doença. Quando fiz 7 anos não tinha escola prá mim, porque não havia quem me levasse ao banheiro. Em 1961, meus pais se mudaram para o Morro da Nova Cintra e em 1964 viemos prá cá e estou aqui desde então, na Rua Rio de Janeiro. Mas sempre trabalhei em Cubatão, fui funcionário da Câmara Municipal, da Caixa Econômica Federal e do DER. Fui eu quem apresentou na Câmara de Cubatão projeto prá que deficientes físicos se tornassem funcionários públicos sem prestar concurso. No final de 1991 eu caí e quebrei a coluna. Entrei com “acidente de trabalho” e passei a usar cadeira de rodas. Em 1993 me aposentei, tinha 42 anos.

VOCÊ MANTEVE O ANACOLUTO NOS TEMPOS EM QUE TRABALHOU NA PREFEITURA DE CUBATÃO?
O correio ficou caro, comecei a rarear as edições – cheguei a distribuir de 2 em 2 meses. Quando abriram a internet, tornei o Anacoluto diário.

VOCÊ, MUITAS VEZES, ANTECIPA NOTÍCIAS QUE A MAIORIA DOS LEITORES SÓ TERÁ CONHECIMENTO EM UMA OU DUAS SEMANAS – NÃO TEME MUDANÇAS DE VENTO QUE TERMINEM POR TE DESMENTIR?
(Ele não responde e confirma o hábito de dar o furo antecipado):
Eu sei, por A + B, que Arlindo Fagundes não vai ser Prefeito de Cubatão e nem candidato do PSDB.

E QUEM SERÁ O CANDIDATO TUCANO, ENTÃO?
Não sei – mas não será Arlindo Fagundes.

VOCÊ FALA COMO UM ORÁCULO.
Falo porque tenho prática. O PSDB, até agora, não investiu nele. (E trata de mudar de assunto) Vou te contar uma historinha, prá você ter uma idéia do homem que sou: quando eu nasci, o Prefeito era o Armando Cunha. Meu avô me pegava no colo e me levava no Bar São Paulo, da família Heleno – me sentava com a bunda no balcão e falava assim prá mim “Aqui na frente vai passar o Prefeito, você sabe quem é o Prefeito?”. Eu dizia “Sei, aquele que anda de chapéu-panamá e capa de chuva, mesmo que esteja sol” – eu tinha 3 anos. “Ele mesmo. Quando ele passar por aqui, fala assim: prá onde é que tu vai, Prefeito f* da p*?” E continuou: “Se tu falar isso pro Prefeito, eu te pago todos os doces que tu conseguir comer durante a semana toda”.

E VOCÊ FEZ?
Eu não fiz isso uma vez. Eu fazia isso todo dia - 5 horas da tarde eu ia prá lá esperar o Prefeito e, quando ele passava eu gritava “Armando Cunha, Prefeito f* da p*, prá onde tu vai?” Pois o Armando Cunha entrava e pagava sorvete, doce, eu comia até cansar e ia embora prá casa. Quando fui trabalhar na Prefeitura, encontrei Armando Cunha Filho, engenheiro. Ele não sabia que eu era eu. Aí eu estava na cantina municipal e escutei um cara chamar “Armando!” Daí me voltei e perguntei “Tu é o Armandinho Cunha?” Ele: “Sou”. Daí lasquei “Pois é. Eu sou o cara que mandava o teu pai T* no c* todo dia.” Ele devolveu na hora: “Carlos Alberto, neto do Campina! Meu pai falou em você até morrer – era o único cara que tinha coragem de mandá-lo T* no c*”. (Ele ri, deliciado com a lembrança). Eu te mandei “Cuba de então?”

VOCÊ ME MANDOU “CONTOS SOLTOS” E “POEMAS SOLTOS”.
Ah, então vou te mandar esse. Eu te mandei a biografia do Afonso Schmidt que é de minha autoria?

NÃO.
Porque a única biografia com autorização da família é a minha – e até agora ninguém publicou. Mas ela já está publicada na internet faz mais de 10 anos. Quem quiser, leia.

MAS, AFINAL, ARMANDO CUNHA ERA UM F* DA P*?
Sei lá, não conheci a mãe dele hahahah!!!! Mas o que meu avô dizia, prá mim, era lei. O negócio é que, quando ele foi Prefeito, quem pagava o salário dos funcionários era ele mesmo. Era um empresário muito bem sucedido – de uma família ilustre de Cubatão, um homem que fez muito pelo município. Se não houvesse Armando Cunha e os emancipadores Cubatão seria, até hoje, um bairro de Santos, não chegaria nem à metade do que é agora.


(Ele abre a internet no intuito de me mostrar mais irregularidades da Prefeitura de Cubatão – não creio que não seja da minha conta, mas estou ali em busca do homem por trás do Anacoluto e agora quero saber dessas relíquias todas à nossa volta. Prá onde se olha, estão lá – tantas que parecem querer saltar em cima de nós)

VOCÊ COLECIONA MUITA COISA – QUANDO COMEÇOU A JUNTAR TUDO ISSO?
(Ele lança, em torno, um olhar evasivo) Fui juntado... Aquela “Nossa Senhora” ali veio de Portugal, de Fátima – e foi benzida pelo Papa antes de vir prá cá. Esses santinhos, fui comprando prá montar o meu congá. Mas não é nada demais – sabe essas lojas de 1.99? Você compra umas coisas assim e deixa comigo que, do jeito que fumo, faço tudo virar logo antiguidade. Tá vendo aquela caixa? Pegue prá mim, por favor. (Está escrito “para a biblioteca de Cubatão”). Isso aqui são livros meus prontos para serem colocados na Biblioteca de Cubatão. (É uma bela coleção de contos, poesia, romances e biografias, tudo inédito e de autoria dele, numa encadernação especial e cara).

E POR QUÊ ESSE MATERIAL NÃO FOI PARA A BIBLIOTECA?
Porque a Biblioteca de Cubatão ainda não merece meus livros.

MAS A BIBLIOTECA EXISTE PRÁ SERVIR AO CUBATENSE – E O CUBATENSE NÃO MERECE??
Cubatão ainda não me reconheceu como seu maior autor vivo – quando me reconhecerem eu mando o material. São 57 obras! Mas a Biblioteca só reconhece o livro e o autor depois que ele é indicado por uma editora. Só Schmidt escreveu mais do que eu – a diferença entre nós é de 12 obras.

E POR QUÊ VOCÊ ACHA QUE CUBATÃO NÃO TE RECONHECE?
Porque eu não abro mão de certas coisas, não sou puxa-saco.

COMO VOCÊ AVALIA AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES PARA A PREFEITURA?
Se Nei Serra sair candidato, leva. Geraldo Guedes seria viável, mas não tem votos na Vila Nova e Casqueiro. Arlindo Fagundes não tem votos na periferia. E tem uma coisa: se ao final não houver apenas dois candidatos, Márcia Rosa é eleita. Porque prá derrubar essa mulher, a oposição só tem chance se reunir suas forças em um só candidato.

(Ele tem algumas listas, como a dos seus “melhores”)
Melhor Presidente da Câmara de todos os tempos: Maria Aparecida Pieruzzi.
Melhor Diretor da Câmara: Armandinho Terras.
Melhor jornalista de Cubatão: Donato Ribeiro (falecido), de “O Cubatão”.
Melhor jornalista mulher de Cubatão: Marisol de Andrade (dava um tom de inocência ao jornal O POVO).
Homens para quem não existe substituto: Bira, Armando Campina, José Jaime Ruivo, Gigino Aldo Trombino e Michaylo.

...

Apesar de nosso personagem ter exigido a publicação na íntegra, de sua entrevista, sabemos que não seria viável – se assim fosse, ocuparia todo o jornal.
Quanto à demora na publicação, ele conhece bem a razão.

                                                        


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

COLUNA SOCIAL - 16.12.2011


“Vivam e amem-se. Não pensem na morte. Se Deus nos deu a morte é porque é boa e útil. Deus não erra...”                                                                                                                                        
                                                                                                                                      (Afonso Schmidt)


Entrevistei, noutro dia, um conhecido escritor, poeta e jornalista obcecado por vírgulas - Carlos Alberto, o Anacoluto de Cubatão. Mas eis que o nobre cavalheiro - muito provavelmente preocupado com o destino deste jornal e da jornalista debruçada neste teclado - terminou por me expôr a situação muito delicada e teria, talvez, me prejudicado mais, caso as pessoas não me conhecessem o suficiente prá saber se escrevi ou não determinados artigos publicados junto à minha foto. Aborrecida, decidi por não publicar a entrevista e seguir com meu trabalho. Mas a impressão que tenho é a de que toda a cidade foi comunicada de que o próximo personagem do Retrato seria Anacoluto e esperaram por isso - gostando ou não dele. Como já devem imaginar, os protestos não foram poucos e a direção deste jornal pediu que eu reconsiderasse minha posição - já que  nosso amigo, talvez, não tenha querido me causar dano. Voilá, eis então o Retrato do Anacoluto de Cubatão publicado no jornal POVO - com muitos cortes ou se faria necessário um jornal inteiro. (Carlos Alberto, não adianta se zangar).





                                                                 SARAU DE BACO












                                                                 NATAL ILUMINADO























                                                          FESTAC - Corações Solitários