Antes da tempestade...

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sexta-feira, 10 de junho de 2011

ENTREVISTA: Gisela Arantes traz "Os Maiores Tesouros do Brasil" a Cubatão



Por Jordana Lima Duarte


Quem tem mais de 30 anos conheceu o programa Glub & Glub, da TV cultura – voltado ao público infantil com desenhos animados e apresentado pelo casal de peixinhos mais famoso do show bizz cultural: Glub e Glub. Gisela Arantes, “a” Glub, está em Cubatão com espetáculo idealizado, escrito, dirigido e produzido por ela – “Os Maiores Tesouros do Brasil”, com apoio do Ministério da Cultura através da Lei de Incentivo à Cultura e patrocínio da Usiminas.
POVO – Em que período você encarnou a peixinha Glub, na TV Cultura?
GISELA – Foi de 1990 a 1997 – fiquei uns sete anos na cultura, gravando.
POVO – E você fez só a Glub?
GISELA – Não, fiz várias outras participações – inclusive na Globo eu fiz o Retrato Falado; também trabalhei na Record, fiz outras coisas. E dois anos atrás eles nos chamaram – a mim e ao Carlos Mariano, “o” Glub, para uma segunda situação do antigo programa. Então gravamos mais uma série que é essa que está no ar agora, na TV Ratimbum e na Cultura. Chama-se também Glub & Glub – a diferença é que, em vez de desenhos animados, nós apresentamos histórias do fundo do mar, com imagens do cinegrafista Laurence Wabba. Mas o formato é o mesmo: a apresentação pelos dois peixinhos, a música de abertura – o que era sucesso eles mantiveram.
POVO – E você chegou a fazer outras coisas paralelamente ao teu trabalho na TV?
GISELA – Sempre teatro – eu tenho formação de atriz. Mas já faz alguns anos que trabalho também em outras frentes – hoje sou autora, sou diretora e tenho a minha própria produtora, que produziu esse trabalho aqui, enfim: sou uma empreendedora (ela ri) multifacetada. O chato é que não está dando muito tempo de atuar, prá dizer a verdade. Mas faço algumas participações ainda.
POVO – Você também é cineasta?
GISELA – Sim, me formei em Cinema e essa minha produtora, a UMIHARU, atua nessas duas vertentes – projetos culturais e cinematográficos, ou seja: teatro e cinema. Nesse espetáculo, inclusive, nós misturamos as duas coisas – os vídeos-documentários e a ficção em forma de teatro.  E a recepção está sendo muito bacana.
POVO – Quando nasceu a idéia desse projeto?
GISELA – Já faz alguns anos que eu sonho em desenvolver a estória desse menino, o Mitinho – que vem do “Mito” Brasil – e trazer várias questões da cultura brasileira, falar desde a fauna e a flora tão ricas que a gente tem, essa grande diversidade natural e também a diversidade humana – essa formação cultural que vem do negro, do índio, do europeu. Então quando Usiminas me chamou prá desenvolver um projeto, pensei “essa minha idéia se encaixa bem nisso” e comecei a desenvolver. Fiz uma pesquisa bastante grande, muitos autores – Darci Ribeiro, Câmara Cascudo, Gilberto Freire, dei uma mergulhada boa no Brasil. E claro – se a gente vai falar do que tem de bom no país, não dá prá não falar também do que tem de negativo na nossa sociedade, então tem que mostrar a ganância econômica, a depredação do meio ambiente. A trajetória desse menino é como acontece nos contos de fada – ele vai vencendo várias etapas, vai encontrando inimigos pelo caminho e aliados também que o vão ajudando a se conduzir nessa viagem pelo Brasil até que ele se apropria mais de si mesmo o que, na verdade, é a nossa busca – a busca da nossa própria identidade cultural. Acho que ficamos muito tempo nessa questão: “afinal, quem somos nós?” – porque a gente é um pouquinho de cada coisa. Darci Ribeiro é que diz isso: “somos uma colcha de retalhos”. E a nossa riqueza está nisso, o mundo se encanta com isso.
POVO – E há quanto tempo você está trazendo esse espetáculo?
GISELA – Nós ensaiamos dois meses, naquela correria toda de montagem de vídeos e estreamos aqui em Cubatão no dia 30.
POVO – E por quê você escolheu Cubatão prá estrear esse teu trabalho?
GISELA – Eu tive o apoio do Ministério da Cultura e da Usiminas e eles queriam beneficiar a região – essa questão da transformação em termos de recuperação ambiental por que passou a cidade, o próprio mangue está fortemente presente no espetáculo. E daqui vamos para o mundo (ela ri, feliz), espero, né?
POVO – E você já tem agenda para os próximos meses com a peça?
GISELA – Eu tenho várias perspectivas de dar continuidade a esse trabalho, eu pretendo seguir por muito tempo e por que não levar prá fora do Brasil? Por que não mostrar lá fora o que nós somos? O que eu queria aqui era isso – respeitar a identidade das pessoas. O Mitinho tem essa busca e quero levar esse espírito para as crianças.
POVO – O Mitinho é você?
GISELA – (rindo) Ele tem de mim essa inquietude, essa busca.
POVO – Você alterou idade, gênero e lugar – tua busca é na arte, na comunicação, é alcançar as pessoas - mas a inquietude e intensidade é a mesma.
GISELA – Gostei da sua leitura e acho que é isso mesmo. Eu uso a arte e meu foco é a educação – gosto muito dessa dobradinha.
POVO – Você já tem outros projetos no forno?
GISELA – Sim, já vou começar um outro.
POVO – Então é verdade? Mas já? (rimos as duas).
GISELA – (rindo) Eu, como pessoa inquieta, estou aqui e já pensando no outro! Num projeto anterior meu – de educação ambiental – eu itinerei por seis anos no Brasil todo, conhecendo e trazendo às pessoas coisas às quais, normalmente, elas jamais teriam acesso.
POVO – Por conta da Lei de Incentivo à Cultura, o artista tem a oportunidade de levar seu trabalho gratuitamente às pessoas – isso redime, de algum modo, o artista que gostaria exatamente disso, levar sua arte democraticamente a todos?
GISELA – Olha, a gente trouxe aqui, todos os dias, na faixa de 120, 150 crianças e eu perguntava sempre no final “Quem nunca foi ao teatro?” Metade da sala levantava a mão!! Nunca foram ao teatro! Que prazer poder beneficiar a eles, de primeira mão, isso. Então talvez, se não houvesse essa oportunidade através da Lei Rouanet, o que proporciona estrutura, ônibus que vai buscar e traz ao teatro possivelmente elas nunca teriam ido. Eu acho muito importante – a Lei tem q continuar e aperfeiçoar e dar continuidade. E os patrocinadores, cada vez mais, devem patrocinar essa formação humana. A arte deve trazer também essa reflexão, essa intelectualidade, o senso crítico, comparativo – ou nossa sociedade não cresce, não sai do lugar.

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