Antes da tempestade...

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quarta-feira, 9 de março de 2011

RETRATO - "Sinésio"

                           "Sinésio"  
      (Por Jordana Lima Duarte)


- O que você quer saber?
- Prá começar, seu nome completo.
- Então vou te falar que meu nome inteiro você não vai pôr no jornal, não – que é o mais bonito de Cubatão.(Risos)

- Cheguei a Cubatão em 1962, com 21 anos e fui trabalhar na COSIPA, onde  participei de movimento sindical e fui diretor por duas vezes.

- Você é natural de onde?
- Sou do Estado do Rio de Janeiro. Cheguei aqui em Maio, ia fazer 22 anos em Novembro.
- Já era casado?
- Já – e era pai de um filho de seis meses.
- E por quê você veio prá cá?
- Eu trabalhava na CSN – nas empreiteiras. E aqui a COSIPA estava admitindo muitos empregados na fase ainda da construção, montagem e tal. Pedi as contas lá para entrar aqui. Vim trabalhar em almoxarifados de ferramentas.
   Fui diretor do Sindicato dos Metalúrgicos por dois mandatos – de 1977 a 1982, se não me engano, e eleito Vereador em 1983. Aposentei em 1985.

(Ele foi Vereador 2 vezes)

- Como se deu seu contato com a política?
- Quando eu morava em Volta Redonda, tinha vontade de ver as coisas acontecerem, mas não tinha nenhum conhecimento político. Era 1956, eu morava com minha irmã e fiquei sabendo da passeata em defesa da Petrobrás. Era menor de idade – o que não faz muito tempo (risos) e entrei no meio dela.

- Então eu cheguei naquele aglomerado – era muita gente – e pedi também um bambu aceso, cheio de querosene, com facho, e fiquei na frente. E as faixas diziam “O Petróleo é nosso”. Eu, curioso, perguntei por quê. “O petróleo não era nosso??”... “Não”... aí me explicaram alguma coisa e, dalí prá cá me envolvi. Aquilo abriu minha mente para o que era a realidade.

- Você era PTB na época do João Goulart...
- Ah, eu era um admirador incondicional. E participei de almoço com o Ministro Almino Afonso, do Trabalho – antes do golpe.

- E em 1966, participou da fundação do MDB.
- Sim, quando Orestes Quércia andou o Estado de São Paulo todo, organizando diretórios do MDB. Eram o que tinha de melhor - ele, Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Mário Covas...
- Aliás, consta que você trabalhou com essa gente toda...
- Trabalhei com todos eles, tenho muitas fotos.

Ele então conta muito da tragetória política de Cubatão, de como a cidade conseguiu se emancipar e dos Prefeitos nomeados – e depois eleitos por voto direto. O homem é uma enciclopédia.

- E você estava onde, nesse momento?
- Estava na Câmara, já era Vereador, isso foi nos anos 80.
  Nei Serra e Oswaldo Passarelli eram o chamado “pingue-pongue”: um saía, outro voltava, ninguém conseguia enfraquecer os dois. Depois lançaram o Clermont dizendo que era “prá mudar”, mas a coisa não foi tão boa, não...

- Como foi sua experiência como assessor de Oswaldo Justo?
- Primeiro trabalhei na eleição dele e é preciso que se saiba que eu nunca pedi nada. Ele, por consideração ao trabalho que fiz, ligou em Cubatão, para o Presidente do Partido e falou que queria me nomear para a Assembléia Legislativa, para uma vaga de assessor parlamentar. Assim se deu minha ida para lá e a minha permanência com ele – que era um homem muito culto, inteligente, era macrobiótico... e eu aprendi muito porque ele tinha uma cultura elevada. Trabalhei com ele 6 anos.

- E como foi com Clermont?
- Trabalhei 3 anos como assessor de gabinete – foi um pedido do Tucla. Foram 8 anos com o Vereador Tucla. Aí, com a entrada da Márcia, foram todos exonerados. E hoje sou diretor do Sindicato Nacional dos Aposentados.

- Sinésio, você já se considerou comunista?

(Ele pensa, considera)

- Faz muito tempo. As coisas mudaram tanto e os regimes comunistas no mundo – China, Cuba, Coréia... Não concordo mais com isso. Hoje sou um social-democrata.

- Você acha que o Brasil tem uma vocação socialista?
- No meu entender, o Brasil tem vocação democrática.

- Como você pensa a época do Golpe Militar? Acha que realmente havia o risco de um golpe comunista que o justificasse?
- Não. Eles diziam que os sindicatos estavam cheios de armas – mas não havia nada.
- Mas e a luta armada?
- Essa veio depois, como resistência ao golpe.
- E você aderiu...
- Sim, depois do golpe, se decidiu que o pessoal do Partido ia prá luta armada. E dividiu-se em uma porção de grupos: ALN, MR-8, siglas que não lembro agora.Trabalhavam interligados e com métodos diferentes. Eu integrei a ALN, ligada ao Carlos Mariguela, que foi assassinado pelo então Delegado Sérgio Paranho Fleury do Rio Branco – o nome do desgraçado.
   Na minha casa houve reunião da alta direção do PCB, da luta armada, o grupo que aderiu – não foram todos que aderiram, não. Participou o Toledo – que assumiu o lugar do Carlos Mariguela. Ele, os membros da direção estadual, das direções municipais de Cubatão e Santos ( representada pelo Cláudio Ribeiro, que quando estourou o golpe foi preso). 15 dias depois o Sérgio Fleury prendeu, levou prá um sítio e torturou até a morte o jornalista Joaquim Câmara Ferreira, o Toledo.

Ele conta as histórias todas dos regimes de governo desde João Goulart – que são muitas e infelizmente não cabem aqui.
Seguem dissertações sobre os últimos anos da política nacional e o governo atual.

- No Nordeste tem três santos: São Lula, Padre Cícero e Lampião.
  Eu não gosto do Lula, não gosto de padres... e o Padre Cícero foi o homem mais mentiroso dos 5 continentes!!

(Gargalhadas minhas, muitas)

E ele continua: Tem um amigo meu que é alagoano e ele conhece muito bem a história do Lampião e do Padre Cícero...
Então ele conta detalhes e testemunhos, choramos de rir – e vocês não vão saber porquê, ele me fez jurar que não publicaria.

Retornou então, ao assunto “política” – que essa é sua maior paixão.

- Sou fã assumido de Fernando Henrique Cardoso. Um dos maiores estadistas brasileiros. Entregou o país completamente democratizado, organizado e infelizmente seu sucessor não teve a hombridade de reconhecer isso.

 - Sua família o apiou esses anos todos em que teve que dividi-lo com a política?

- Minha mulher não gostava de política, mas me ajudava em tudo. Ficamos casados 47 anos – faz 3 anos que ela morreu.
  Tenho 4 filhos homens – um com 32 anos, um com 42 e outro com 49. Tive uma filha que morreu aos 24 anos por causa de uma bronquite que deu parada cardíaca, ficou 8 meses em coma vegetativo na UTI da antiga Santa Casa de Cubatão...
(Ele olha um ponto vazio na parede, pensativo...)
  - 70 anos, 4 filhos bem colocados, netos na faculdade...
 - E namorando...
(Sinésio, depois de viúvo, se tornou um namorador.)
 - Ah, mas ela é linda, linda...

(Risos)

Ele também foi músico – por 22 anos.

- Toquei baixo, tuba, clarinete... E sempre toquei por partitura, nunca consegui tocar de ouvido.
- É verdade que você tem uma coleção inteira em vinil?
- 1500 exemplares entre músicas evangélicas, bolero, samba da velha guarda, chorinhos, sertanejo, clássico, orquestras, muitas bandas de música.
 
(Hora de um merecido cafezinho, finalizando uma narrativa rica em vivências e poucas e duráveis paixões).

- Minha filha, acho que dá prá fazer aqui uns dois jornais cheios – hahaha!!!

Muitos risos, mais histórias e o lamento de ter que encerrar aqui.