(por Jordana Lima Duarte)
Tamirys Ohanna
Sandy Andrade
Recebemos, em nossa redação, na última terça feira 21, o teatrólogo Lourimar Vieira e as alunas do Projeto Superação – Sandy Andrade e Tamirys Ohanna – que fizeram uma avaliação do último ano, em termos de realizações e da influência do teatro em suas vidas.
POVO: Como surgiu o Projeto Superação na vida de vocês?
SANDY: A gente já estava no Kaos e já trabalhávamos em “Caminhos da Independência”, já estávamos por lá. Então Lourimar falou desse projeto e que ele tinha sido aprovado pela Petrobrás. Fizemos os testes, passamos e entramos para o projeto – já estávamos no Kaos e continuamos.
POVO: Vocês cursavam, então, o Ensino Médio?
SANDY: No meu caso, não – quando o projeto começou, eu já estava formada.
TAMIRYS: Eu me formei agora. Quando o projeto começou, eu estava no último ano da Etec, cursando Meio Ambiente. Era período integral e, de lá, eu ia direto para o projeto, onde tínhamos aulas todos os dias, era corridíssimo. Mas consegui concluir o curso.
SANDY: Agora estamos de férias, só voltamos em Janeiro, já com os ensaios prá duas peças que vamos encenar – “A Falecida” de Nelson Rodrigues e “O Auto da Camisinha”, um teatro de rua.
Tamirys Ohanna foi aprovada no Curso de Arte Dramática da USP – Sandy chegou até a terceira fase e tentará novamente em 2012. Há uma preocupação de Lourimar Vieira com o desempenho escolar dos alunos, em sua maioria adolescentes – o que obriga todos a uma disciplina diária severa. O resultado disso é que o teatro acaba influindo de maneira mais que benéfica, potencializando o sucesso individual em outras áreas, como o estudo.
POVO: O que foi determinante prá que vocês “dessem conta” de uma carga tão pesada?
SANDY: Sem dúvida a família, que esteve sempre junto, me apoiando e valorizando a cada passo.
TAMIRYS: Meu pai sempre me cobrou “foco” , por eu ser muito dispersa – então tudo que eu começava, tinha que terminar, mesmo que não quisesse mais. Quando o tempo passou e se definiu que o que eu quero é o teatro, meu pai e minha mãe me apoiaram totalmente.
SANDY: Duas coisas que se aprendem no teatro, além do óbvio – que é atuar – são responsabilidade e disciplina, que você carrega prá todas as áreas da sua vida.
LOURIMAR:Estamos desde janeiro sem conseguir parar, com atividades o ano inteiro. Tiramos férias agora, mas logo no princípio do ano estaremos de volta, ensaiando “A Falecida” com o Nelson Baskerville. Começa, então, a segunda fase do projeto – que é montar duas peças e viajar por 30 cidades em 5 estados brasileiros. Além disso, a partir de agora, os alunos começam a multiplicar, nas salas de aula, tudo o que aprenderam esse ano, ministrando oficinas de iniciação teatral. Nós vamos atender mais de 400 crianças e adolescentes da rede municipal de ensino – sem custo nenhum para o município, tudo pago com recursos da Petrobrás. E cada aluno ainda ganha uma bolsa-auxílio no valor de 300 reais. Vale lembrar que esse projeto foi viabilizado com recursos do Programa Petrobrás Desenvolvimento e Cidadania.
POVO: No quê, necessariamente, você estava pensando, quando idealizou o Projeto Superação?
LOURIMAR: Sou professor de artes cênicas e dou aulas desde 1986. Eu quis tanto fazer teatro e as pessoas não me ajudaram, foi muito difícil engressar nesse mundo. Então no que as pessoas não foram generosas comigo eu procuro recompensar a criança, o adolescente, o jovem, o adulto que queiram fazer teatro. A quem me procura dizendo que quer fazer teatro eu respondo que só existe um segredo, que é me encher o saco, ficar no meu pé, – que eu já coloco logo num curso, numa peça. Porque na minha vida inteira eu me dediquei à formação de atores. E agradeço muito a Deus por ter colocado o teatro na minha vida – ele me transformou, me deu dignidade; não é fama, é realização, tudo o que eu tenho, devo ao teatro.
POVO: Você veio lá do Piauí e viajou por grande parte do país – por quê realizar esses projetos em Cubatão?
LOURIMAR: O Schmidt deixou a missão, para algumas pessoas – a de transformar Cubatão em Zanzalá. Nós, que amamos essa cidade, temos a obrigação de transformar o sonho dele em realidade. E o que é o sonho dele¿ O de, em 2029, Cubatão ser o maior pólo cultural da região metropolitana. Onde está a melhor Banda Sinfônica¿ Em Cubatão. No teatro do Kaos, temos os melhores professores, alguns doutores da USP como a Orleidy Faya, doutora em dramaturgia, o Nelson Baskerville, que ganhou o prêmio APCA e 5 indicações ao Prêmio Shell, o Tanah Corrêa, Carlos Meceni. Meu objetivo é formar um grupo de atores bons prá trabalhar comigo e levantar o Kaos – Tamirys é uma atriz maravilhosa, a Sandy, o Sander, o Paulinho e vários outros do mesmo nível, temos já uma seleção de bons atores.
Lourimar quer produzir um filme sobre Cubatão, já orçado em R$432.000,00 e, para tanto, conclama a todos os que amam a cidade.
LOURIMAR: Se cada empresa do pólo industrial entrar com 30 ou 50 mil, será bom para o Teatro do Kaos, para Cubatão e para as empresas. Quero mostrar as cachoeiras, as histórias do Afonso Schmidt, os monumentos históricos – as pessoas no Brasil só conhecem, de Cubatão, que ela foi poluída nos anos 80, há muito preconceito e piadas. Então esse filme chega para mostrar uma imagem positiva da cidade – da cultura, das imagens, da obra do Schmidt. A poluição, por exemplo, foi controlada em 92% e existe em toda parte do país – São Paulo é muito mais poluída. Estou num longa-metragem do Frank Aguiar – faço uma participação. Gostei e quero fazer isso em Cubatão. Por isso esse apelo às pessoas que amam a cidade – não vou ganhar nem um centavo, se tiver que pagar prá fazer o filme, eu pago, mas quero fazer.
SOBRE O FESTKAOS:
LOURIMAR: Um dia eu estava no Kaos, me entra Telma de Souza, fiquei tão assustado e feliz ao mesmo tempo. Depois ela foi prestigiar “Caminhos da Independência”, nos visitou nos camarins. Mais tarde recebo um telefonema de um assessor dela: “Lourimar, temos uma emenda parlamentar da Telma de Souza para que você desenvolva um projeto cultural”. Eu não pedi, ela ofereceu. E já estava montando duas peças, então pensei num festival de teatro. Como há um vácuo temporal entre a realização do Festac e a liberação do dinheiro da emenda (a princípio queríamos um festival emendado ao Festac), então pensei no Festkaos. E já temos 53 inscritos de 7 estados brasileiros – 28 cidades. Serão 10 dias de festival – dos dias 20 a 29 de janeiro. Serão 8 selecionados para a mostra competitiva. Os grupos selecionados já ganham, de cara, 2000 reais – depois haverá as premiações para os três primeiros colocados. Os jurados são o Plínio Soares – que é um ator de Cubatão, formado pela Escola de Arte Dramática e está na Malhação, da Rede Globo. Teremos também a Renata Sofredini, filha do Carlos Alberto Sofredini – e o terceiro jurado é o Moisés Miaskóvski. Já a comissão de seleção pediu anonimato. Premiaremos, além de melhor espetáculo (primeiro, segundo e terceiro lugares), melhor ator, melhor ator coadjuvante, melhor atriz, atriz coadjuvante – a quem quiser saber mais, é só acessar o site WWW.teatrodokaos.org e clicar em festkaos. Fica aqui meu agradecimento à Secretaria de Estado da Cultura, pro governo do Estado de São Paulo e para a Deputada Telma de Souza – e à parceria da Secretaria de Cultura de Cubatão, uma coisa que tem dado muito certo. Teatro é celebração – e festival é comunhão e celebração.